sexta-feira, 11 de junho de 2010

O Pó Não me Assenta…

Desesperada como se uma carga estivesse suspensa em cima do meu corpo e a qualquer hora pudesse cair, peso que não é meu, angústia sufocante, rasgante dos males que já não partilho, das bocas que já não vejo mexer por mim, tiro a roupa, liberto o corpo, vendo a alma se preciso for, para parar de sentir este desassossego aspirante a espiritual, mais ansioso que eu.

Lavo os dentes com a língua seca das palavras más, que furam o coração, queimo os blocos frios de palavras quentes e letras ásperas, difusas, ocas, amaciadas por um ar mínimo, que não me deixa respirar pelas transparências que me separam do movimento, da energia que tento controlar a todo o custo na ânsia de sair, na ânsia de viver.

Quero tudo, quero mais, quero pegar no Mundo, bebê-lo de uma vez só, vivê-lo por todos, voar no embaraço das quedas que darei e na vitória de colocar as mãos no chão para me levantar constantemente na aprendizagem louca, embalada pela necessidade de saber sobre tudo, no medo de estar aqui a perder, no receio de não ouvir, na tristeza de não sentir, no ter que viver, no ter que ser livre.

Quero sobre as minhas mãos a areia que se deixa cair, a água que se deixa lavar, a seda que me acalma a pele e presenteia os sentidos, sou gigante, sou maior que as serras, montanhas ou vales, estou deitada sobre o universo, desejoso de mim e eu dele, transpiro por ser, transpiro por querer, transpiro por conseguir, transpiro por existir, transpiro por balançar, transpiro por atingir.

Preciso de tudo, preciso das ruas, das casas, das pessoas, do conhecimento, das verdades, até das mentiras, preciso de olhar, preciso de me conduzir até onde eu quiser, preciso de me vender e comprar, preciso de experienciar, preciso de tudo a meus pés, preciso de tudo em mim, tenho tudo isso e muito mais, e vivo aqui, esquecida do que tenho, do que posso sentir.

Desespero, corto a pele, firo a carne, finco as unhas na vida e ela em mim, mas não desisto, mas não me perco, mas não me venço pelos buracos que encontrar, porque deito a âncora, solto as amarras, espeto as estacas na terra firme e vou em frente, rebolo, agito-me, baralho-me, rectifico-me, contorno-me, deleito-me, lavo-me, emirjo, aqueço-me, seco-me, deixo os cabelos ao lado.

Sou Mulher, das poucas em que o pó não consegue assentar!

Conquistas… Desejos… Vontades…

Numa volta redonda de um olhar sem ver, numa mão aberta de medos e feridas, onde o sonho já não existe, a ilusão tão pouco, o encaminhamento faz-se bem ao lado, bem indiferente da existência de quem um dia foi importante, muito acima do valor que alguém nunca conquistou, muito longe de quem é insignificante, muito esquecido do que se foi um dia, muito perdido das razões merecidas, ancoradas num peito doce.

Desperto para outros sentidos, fazem-me olhar para outros lados, a atenção reclama muito alto a minha pessoa, as qualidades como um beber de inteligência falam comigo num desespero de me atirarem para outros horizontes, para outros milhões de braços presentes, para outras dimensões cheias de realização, realização, caminhos feitos a alto vapor do poder de querer, do poder de crescer…

Não estou, já não estou no mesmo patamar, já não existe processo, já não existe nada para esquecer nem perdoar, já nada merece o meu entendimento, o meu debruçar de cuidados para ajudar a outra parte, já não existe intenção ou sentimento verde, já não me completo com tão pouco, com o vulgar e inerte de uma situação que o tempo já fechou mas alguém ainda julga aberta.

Noção, invalidez, descrédito, insegurança que não suporto, não acarreto e não me deixo levar, palidez de meios, crença falsa debruada a mentiras e covardia, paragens, insultos, saloios de mente, que se fazem acompanhar por entre as horas, como apenas a companhia de um ser existisse, mentes tortas, tacanhos de espírito, gente medrosa e apagada, gente do chão, como fruta podre.

Os meus passos são longe de tudo isso, nas emoções limpas, os resíduos já foram retirados e bem fechados, numa embalagem de titânio, com rolha de emancipação, desejo de evolução, perfeito trilho das memórias, exemplo exemplar de construir, de petrificar vontades, de empedrar conquistas, de massificar gerações, de intervir na perfeita perfeição da minha loucura de ser Melhor.