terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Clausura

Vagueio, vagueio mais do que onde me consigo imaginar, consigo estar nua, vestida, calçada, bem penteada, em saltos, em altos, em sobressalto, em esquecimento, em ligação directa.

Consigo andar pelos sonhos daqueles que nem sei perturbar, que nem sei que não é preciso muito para me lembrar, consigo estar nos pormenores de um dia, de uma noite, de um curvar.

Mas é em ti que mora a essência, essa louca que eu não consigo descolar, nada faço para a colar, apenas entro pé em frente do pé, como se fosse uma dança, como fosse vento.

Não preciso que me vejam, não quero ser vista por todos, apenas só por alguns, alguns sufocados, inteiros, aqueles que conseguem subir paredes em segredo.

Na troca aberta, desperta, sensata, honesta, rompe se um silêncio que existe apenas para o todo e jamais para um mundo de dois mundos isolados.

Agradeço a um Passado, esse que me libertou covardemente, a quem faço uma vénia para os imensos Portais do Futuro que rasgaram as muralhas em que estava enclausurada.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Letais e profundos…

Vamos ser lambidos por uma vaga de frio, por um crespar de empenho, por um silêncio aterrador, por um descontrole perfeito e amarrado às tranças de um mar em aberto, em revolta, em consciência de um paladar livre de sal.

São energias, são vontades, caminhos parecidos, paralelos em surpreendente conforto, em pleno carinho de um sol, de um vento, de um frio maior e emprestado ao ondular de palavras certas pouco tapadas a quem as sabe ouvir.

Cruzam se, vendem se, vestem se e fogem por entre brumas e montes, por entre sabores e olhares, por entre frestas de sol queimado ao lado do calor que se encontra perdido, desesperado, imaginado numa realidade presente.

São para lavar o coração, desligar o fio dos sentimentos e potenciar os sensores de uma vida a palpitar nas pontas dos lábios, nas pontas dos dedos, no polvilhar de céu e da terra de pequenos curtos circuitos imensos de tudo.

Selvagem, como um Deus, discreto como se não existisse, plenitude de emoções embrulhadas em algodão agri-doce, repleto de sentidos atentos, manifestados em pequenas doses letais de desejo profundo.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Vulgares que falam vulgaridades…

Dentro de uma pedra e das unhas cravadas nela, vejo o Mundo que não me toca, um recanto que poucos conseguem contemplar, e fora das palavras vulgares dos que não seguram no corpo, tão pouco na alma a fresta de ver o que pode ser tão mais louco, tão mais especial.

Desvio me de gente, misturo me com pessoas, vejo uma justiça sem igual no acumular dos desalinhos, constantes, perfeitos para quem não o é, justo para quem tão pouco fez, tão pouco se deu de verdade, tão pouco se saboreou vestidos de um vento suave que esculpe até corpos de aço.

Adrenalina que não se partilha com um ser que se cruza por acaso, não é digno, não é forte, não existe, não acontece, é preciso conhecer, viver, perceber a densidade de um medidor de evolução cardíaca, de um registo inabalável de carácter, de secretismo pleno de pureza e certezas.

Assim o pensamento daqueles que supõem não valida nada, apenas a ignorância que já sabíamos existir em demasia e o medo de gritarem que afinal o resgate de um coração é feito com a entrega total, a admiração excêntrica do reconhecimento altivo de um sentir sem precedentes, sem vícios, sem limites.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Ouvi tudo o que enviaste…

Rasga, fere, dobra te, enrola te, despeja te, abandona te, cheira te, retraça te, e rompe te em milhões de escudos, em centenas de luzes infinitas, secas.

A alegria traz me leveza, já não me puxa para o fundo das mantas pesadas, o cansaço que presenteava todos os dias, a força da tentação de ficar por lá.

Já sei o que fazer, como andar e por onde andar, ando com o vento e caminho pela água, é mais doce, é mais macio, é mais incerto mas é mais criativo.

São as penas que dão o traço fino, que dão o poder de criar, doces amargos, que carrego no dorso, fuga para combater o que me apunhalou.

E quem me fez viver de novo, a quem devo tal sopro de vida, a quem conseguirei agradecer o que sempre fui, a ninguém e a todos.

São as trocas que me fazem assim, são os momentos em solidão, são o não querer ninguém apenas estar presente, só com o barulho infinito do silêncio.

E dentro das letras que baralho e sopro e palavras sem sentido, sem guarda ou cancela, sem querer nada, sem saber que histórias são estas, inventadas.

Entre tempos dos tempos que se vão cruzando para não se chegar a lado nenhum mas que quase todos pensam que algum lado é algum lugar.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Sem caminho, para além do caminho…

Um dia de sol entre fumos e sabores acentuados, licores de terra, frutos de vida e pecado, olhares trocados, nem perdidos, nem achados, tão pouco perdidos, rendidos ao que nos faz bem, e transcende de uma melodia forte e detalhada, de um gosto a perfume marinado pelo aroma de laranjas amargas e ansiosas de um doce garantido, pormenorizado pelos pontos abertos do respirar.

Cuidado, as curvas são direitas para alguns elementos que dependem de apenas um olhar atento, uma perseguição sem sentido, de um cinza tenso, observado pela vaidade do que nenhum precisa ou quer, por um fio, por palavras vazias, por intenções nunca consumadas, de trocadilhos vulgares e frases atrapalhadas, de medos despertos, de telhados emadeirados, de falta de ar.

Um balanço subgéneros, vejo por um espelho pequeno a tranquilidade de um conduzir descontraído, alcance inteiro, de sons sem importância, linhas rectas sem existências, sem percalços, sem ancoragens, sem previsões, e de repente, a proposta chega, o desejo é evidente, e o corpo perde a vontade de estar presente, para que bem ausente te possa consumir a um nível maior.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Em punhados…

Se te atirasse um punhado de lama, se te apanhasse logo a seguir, bastava tocar te para ficares limpo, bastava seguir te para te sentires seguro, bastava olhares para trás e perceberes que ainda aqui estou, segura de mim.

Se em algum momento me sentasse para atar o atacador dos passos que dou sempre certos, e se em algum instante me esquecesse que apenas estou em caminho aberto para uma vida plena, sem lamas, sem medo, sem lamas.

Não me roubes, não me mintas, não te enganes a ti mesmo, desesperas sem sentido, sem rumo, e rodas no meio de um ciclo que de nada é vicioso, que constantemente se apaga e se apara como inicio do retorno.   

No meio de melodias fortes, marcantes, recheadas de força e sem limites no horizonte de marcos naturais verticais, numa ondular perfeito, embalado pelo calor que me aconchega os pés, faz me estar cada dia mais perto do que é meu.

Sei que precisas apenas de um dedal de mim, sei que em reflexo do que fazes, está a consciência exaltada do que queres que veja, devo dizer te a tua verdade, ensinar te que apenas vejo o contrário daquilo que me queres mostrar.

Os destroços já os limpei todos, a lama já não sei o que é no entanto sinto te ainda em pensamento, em alteração física e mental, em cobro de sonhos e verdades, e numa realidade à parte, de onde não saís do mesmo sitio.