terça-feira, 24 de agosto de 2010

É a falar…

Sinto um abandono dilacerante, uma perda inabalável, um conforto revestido a desconforto, um ganho sem nunca ter perdido, e perdido estás sem mim.

Sinto que não te perdi, mas sinto que me perdeste porque assim o entendeste, alcance de mão que sempre terás, estendida, para me teres, para te recuperares, para renasceres.

Sinto que já não corres atrás mas sim à frente do que já não queres perder, verdade, vontade, realidade que te brota no peito, que te racha a alma, que faz sangrar pelos olhos.

Sinto que agora te limpas da poeira que projectaram sobre nós, rasto do que nunca tiveram e que tu terás muito mais, sempre, porque não existe nada igual, porque só eu moro ai.

Sinto te, presente, perto, tão perto que me mete medo, que me faz exaltar as noites, que me faz rolar a memória, quantas vezes traças a minha rua, só para me teres mais junto a ti.

Sinto que vivo, e vivo cada vez mais, na tua pele, na tua respiração, mais do que há na razão, mais do que o pensamento comporta, pois na realidade pouco mais importa.

Sinto a tua mão na minha, sinto o teu respirar, sinto um arrepio na espinha, sinto te a cheirar, sinto te sem ar, sinto te dentro do meu palpitar, sinto que te faço andar, sinto te a inalar me!

Sinto a tua saudade, o teu desespero, o teu sofrer antecipado daquilo que já não recrimino, daquilo que já não faz sentido, daquilo que não valorizo, daquilo que não importa, daquilo que já não tem valor.

Sinto que ainda queres falar, falar como antes, numa noite sem mais ninguém, falaste até ao amanhecer, num aconchego profundo, num sono embalado pelas palavras livres, sem medo de errar…

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Lembro me de alguém dizer com tamanha convicção: Nós merecemos isto, nós merecemos isto, não tenhas dúvida!

Gosto de pessoas com convicções, gosto de pessoas que se conseguem abandonar e receber o que a vida lhes oferece, gosto de pessoas que se preocupam com as outras e que em momento algum irão magoar alguém, gosto de ti, que me trazes em ti!

E ficaste à procura do melhor lugar de nós, do melhor caminho para nós, e o alimento básico bastou nos, uma mistura singela, de nudez, frutas, mel e uma espécie rara de Amar, uma forma tão própria de estar, talvez por ser um Acabar!

Foi um colar tranquilo, um desespero amparado pelo tempo que tínhamos até ao amanhecer, um rebolar de calor, um ardor de pele, um cuidar pelo olhar, um saborear devagar, um lavar desajeitado de corpos.

A espuma que estala elegantemente nos ombros, no pressionar dos pesos inexistentes que a água segura em desejo de entrar, num inflamar, numa desfiguração humana, um esticar de músculos, um desprendimento da carne.

Um vinho frio, um vinho quente, um laminar, 2 umbigos no limiar, mãos ao ar, antebraço perfeito, pés em toque perfeito, encaixe de uma vez, precisão pelo tempo todo, impressionante o beber que te deu o coração em fusão na minha pouca precisão.

A janela da perdição, o fumo da loucura, a música da perfeição, a disponibilidade para nos ouvirmos, a nudez plena, o desejo existe, o desespero talvez não, e até na tentativa infantil de me lavares os longos fios de cabelo, te vês perdido em mim.

O vidro partido, a roupa a voar, o desarrumar, o beijar emulsionado, o rir, o arrastar, o piquenique de vontades que não nos levou não para mais longe do que algum chão trazido já nas mãos.

A fome, a Sede, o despertar ao teu lado, as palavras travaram a fundo, e desde que conhecemos aquele mundo próprio, deixamo-nos invadir por este Silêncio do Bem!

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Sabe me bem, Sim!

Trinquei uma árvore só para saber como sabia, soube me bem.
Acompanhei com o teu coração de lata, soube me tão bem.
Bebi lhe a seiva, bom néctar, soube me assim, assim.
Refresquei a com o teu sangue gelado, soube me ainda melhor.
Mesmo assim, correste atrás de mim, não me soube bem, fugir de ti.
Mas tinha que ser por aqui, e por aqui, e por ali, soube me bem não te ver sem ser assim.
Mesmo assim, não te vi, soube me bem não te ver, mas embora fuja de ti.
Assim na invisibilidade, assim na transparência sabe me bem este sim.
E sim, vou até ao sim, e assim soube me sempre bem ter ganho no principio, no meio e neste Fim!

Espécie Desigual

Anseio criativo, vontade voraz, rasgo de algodão em pó, bebo o suor que nasce neste nó, lambo a pele, sangro o corpo, despejo prazer, revejo me em dor.

Dor, Dor, Dor, desta espécie de amor.

Ganho força ainda mais força, sinto um descontrole letal, beijo te com o corpo de inveja, banho te de mim, sem preconceito tal, parto o barro, agarro o naco, revivo te a vida.

Vida, vida, vida, este anseio que arde à deriva.

Deixa cair o que te cobre, abandona te antes que algo mais me desperte, antes que alguém me leve, antes que a loucura tome conta de ti,

A Ti, de Ti, para Ti, estou eu aqui nesta espécie de Amor.

Quero cruzar me em nudez, quero ser crua, quero ser brutalidade, quero abraçar te em devaneio, quero os meus pés em partes.

Parte, Parte, Parte para bem perto mim.

Fotografa me com a mente, cheira me com os dedos, usa o veículo perfeito para vaguearmos pelo céu escuro pontuado de brilhantes.

Brilho, Brilho, Brilho em reflexo dos teus olhos.

Reboliço, ansiedade, desespero, vaidade, não me interessa, quero te e quero te cada vez mais, porque sei que já te doaste a mim.

A Mim, em Mim, para Mim, é tudo o que te resta.

E entre variantes de milhares de sentir, quero esta espécie de Amor que me enche de vida, que te faz escorregar em loucura à minha porta.

Quero esta espécie de Amor que não me traz mal, apenas me dá tudo de bom, que se mostra, que se dá, que contempla.

Amor, Amor, Amor, esse desigual que tu tens para mim, sem dor.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Gente… Tanta Gente!

Estou em estruturação, talvez até em negação, estou em peso de algo que não sei o que é, talvez até nem seja nada meu, tenho como mania sentir o que não vejo e ver o que não sinto, cansa me isto!

Não gosto muito de andar por ai assim, assim como se fosse dormir e não pudesse fechar os olhos, assim como se nos ombros carregasse uma criança feliz mas que não lhe vejo a cara.

Estou ainda em plena intoxicação, tantas cores, tantos sabores, tanta gente que não me diz nada, palavras, tantas palavras interessantes se fosse noutro contexto, tantos olhares vazios, falsos, remexidos, cansados, tristes, apagados, carregados de vidas manhosas, de vidas pouco completas.

Fiquei me pela admiração das ondas estranhas que trago na cabeça, pelo azul petróleo que se balouçava em mim, pelos amigos que encontrei inesperadamente, pelas fotos tiradas por inspiração num momento de profundo desapego e empolgamento.

A noite caiu, a noite densa, fechada, encaminhou me para outros rumos, destino em que me esperavam dentro de um jogo de cartas ensonado, onde o pão ensopado no molho de alho, delicioso, ajudou a terminar o dia em paz.

No entanto trouxe para casa pesos, muitos pesos e estes terão que sair todos hoje, porque realmente não são meus, são de quem os voltará a carregar até ao dia em que decidam que também não deveram carrega-los mais.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Em rota contrária…

São os sons de uma Índia profunda, trazia aos ocidentais da memória actual, retalhada pelos movimentos imitados das mãos e braços de alguém que já viveu quase tudo mas ainda exalta por viver mais e mais, é a vontade de libertação de um corpo em plena liberdade, são risos limpos, risos leves, risos que carregam juventude, que descarregam a realidade em pequenas doses de pouca amargura mistura com a alegria de viver sem tormentos.

Mas hoje decidi esquecer tudo, deixar tudo o que nunca tive, para trás, decidi ir beber outras águas e escravizar as hipóteses de quem quer fazer tudo por mim, deixar para trás quem nada faz, quem nada emana, vou pedalar para junto de quem me quer, banhar me na cor azul transparente que está disponível e depois rir ao vosso lado, doces, plenos, inigualáveis, retratados numa momento de pura natureza, de pura inocência, de puro prazer da mais pura essência.

São pares de olhos doces, cabelos apanhados, pernas com força, vitalidade de uma infância a começar, de um Ser como ser para uma vivência longa, onde tudo será feito com consciência, intensidade, dimensão da imensidão que pode ser uma vida, não será, nunca será em vão, pois tudo tem um significado, tudo tem um instante de intimidade, de refúgio, de recorte da silhueta que me assiste, que me leva os pés pela calçada quente do sol intenso.

E é na vinha que se faz um vinho aberto, de aromas frescos e repletos de uma verdade única, é na pele que tudo cresce, que tudo se entranha e vence a razão, passa para a outra dimensão e fecha se assim um ciclo, abrindo outros mais que perduraram para sempre num Cosmo absoluto, no traçar de novas conquistas, nas loucuras não existentes e que deixam de ter razão para acontecerem, o vinho da vida que nos traz momentos nunca vividos, é perfeitamente inacabado!

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

A Zeros… 00h00

Horas, horas das horas que não quero ter, não vou esperar, não vou caminhar mais num sentido em que na verdade não quero caminhar, quero vivenciar, apreciar, saborear, mas não quero perder a ilusão que me faz ver com brilho.

Quando as cenas, os flashes vêm menos doces, menos contemplativos, menos presentes, quando se deixam vencer pela possessão, pelo ciúme do que não te pertence, rebato, vou para bem longe do que não quero ter!

Agrada me a pressão dos corpos em reboliço, revejo os toques e a profundidade de um olhar “retinado”, elástico, volátil por entre os pensamentos de abandono do peso da realidade, dentro de um apetecer incontrolável inserido no controle.

A sombra das estrelas numa árvore caracterizada pela inconsciência, desmembrada por falta de amor, por falta de memória de viver, partindo um desatino espelhado, num sucesso de conquista tântrica a longo prazo.

O olhar prende se nos pés que articulam a micro descarga dos nervos que o corpo traz, o tremer da ânsia do que não foi, um agitar e balançar de encaixe pretendido, paredes de pele, que nos balizam.

Ancorados, carregados de pó numa traseira imaginária, por entre as lembranças das corridas, das loucuras, dos charcos, da água, do campo denso e quebrado pela colina em queda, em desespero das guias altas, esguias, altivas.

O conhecer o que será meu, talvez um dia, rotunda em espera pela volta que nos faz regressar a casa, pedra de calçada içada da pressão do caminho plano, manta sobre os ombros que te aquece a vontade de ficares.

Não tolero, não me dou, não me contento com a possessão, apenas a minha que trago nas veias mas que não exerço em ti porque não te quero, porque és meu sem ser, porque ainda não te abandonaste, porque nada disto é igual a mais nada.

Nada, é tudo o que terás de mim em possessão, em falta da verdade do que sentem os teus músculos, a tua força, o teu cerrar de dentes, a expressão de pulso do que pretendes esconder e rematas com falta de cuidado!

Cuidado, muito Cuidado… Porque o Nada pode Ser Tudo!